Resumo No ano de 2001 foi implantado na Alumar, um dos maiores complexos de produção de alumínio do mundo, o primeiro sistema comercial para monitoração on-line de transformadores de potência a entrar em…
Resumo
A energia elétrica é um insumo fundamental para a produção industrial da planta Johnson&Johnson em São José dos Campos-SP. Manter o parque elétrico funcionando corretamente sempre foi prioridade para as equipes de manutenção.
A subestação principal e, em especial, o transformador de entrada sempre tiveram um completo programa de manutenção preventiva e a constante atualização tecnológica para detecção antecipada de defeitos.
Com o intuito de promover maior confiabilidade e disponibilidade de planta, entre 2014 e 2015 foi implementado um sistema de monitoramento on-line deste transformador, composto por sensores e software, para o acompanhamento do estado de funcionamento do transformador dia a dia.
Neste trabalho serão descritas a arquitetura e as soluções empregadas no sistema, assim como as alterações na rotina de manutenção, a assertividade na resolução de eventuais problemas o ganho em segurança operacional dentro do complexo.
Autores
Johnson & Johnson | Luiz B. S. Chacon |
Treetech Sistemas Digitais Ltda. | Murilo A. Toledo |
Treetech Sistemas Digitais Ltda. | Lucas Pavan Fritoli |
Treetech Sistemas Digitais Ltda. | Hirokazu T. B. Ito |
1.0 - INTRODUÇÃO
A planta industrial da Johnson&Johnson em São José dos Campos-SP é responsável por fabricar os produtos de higiene e saúde pessoal, além de uma dedicada linha para o setor hospitalar. Dentro do processo produtivo, a energia elétrica é um insumo indispensável e sua eventual falta compromete a programação e pode causar grandes prejuízos a organização.
O abastecimento elétrico da planta é realizado por meio de uma subestação própria de 25 MVA de potência instalada, mostrada na Figura 01, e utilizando um único transformador de 88 kV – equipamento chave para continuidade do sistema de produção. Diante disso, todo o controle de manutenção corretiva e preventiva é rigoroso e realizado de acordo com as normas e boas práticas do setor.
A área de engenharia de infraestrutura é responsável por promover avanços tecnológicos no parque e assim, permitir a contínua expansão da planta com confiabilidade e segurança. Nesse contexto, foi definida a implementação dos conceitos da manutenção preditiva visando melhoria dos processos e gestão de ativos.
Esta foi permitida com a instalação de um sistema de monitoramento on-line do transformador para o acompanhamento do estado de operação deste. Envolvendo sensores, software e mudança dos planos de manutenção, a Johnson inova mais uma vez e mantém a tradição de líder tecnológica.
Figura 1 – Subestação 88kV
2.0 - MONITORAMENTO ON-LINE PARA PREDIÇÃO DE FALHAS
A tecnologia de monitoramento on-line foi escolhida levando em consideração os seguintes critérios:
- O diagnóstico do estado atual do transformador, de modo a fornecer subsídios à tomada de decisão quanto a mantê-lo ou não em operação – confiabilidade das instalações;
- O prognóstico precoce de condições de falha em seus estágios iniciais de evolução, de modo a possibilitar a parada programada do equipamento para ações corretivas – disponibilidade de planta;
- A monitoração das condições de operação do equipamento ao longo de toda sua vida, a fim de manter sob controle o processo de envelhecimento – gestão completa da vida útil;
- A utilização do transformador em condições de sobrecarga ou condição de risco, porém com total conhecimento e controle das diversas variáveis envolvidas, sem incorrer em riscos excessivos – segurança operacional.
3.0 - FILOSOFIA IMPLANTADA
Para atender aos objetivos técnicos e financeiros propostos, a Johnson adotou as seguintes funcionalidades:
- Medição de Variáveis por sensores em arquitetura descentralizada
Sensores especialistas para medição das grandezas elétricas, mecânicas e químicas do transformador de potência, vide Tabela 01. Este estão comunicando via rede de comunicação RS485 em protocolo aberto Modbus com o software de monitoramento na sala de controle (arquitetura na Figura 02).
Sensor Inteligente | Especialidade | Meta |
---|---|---|
Monitor de Temperatura | Funções 26 e 49 | Proteger a máquina |
Gestão térmica do transformador | Ter o máximo de potência com o menor risco | |
Gestão do sistema de ventilação | Garantir as condições exigidas para mais potência na rede | |
Relé Regulador de Tensão | Função 90 | Regular corretamente a tensão em função da necessidade da empresa |
Melhor qualidade de energia | Fornecer a melhor faixa de tensão para atender a demanda da empresa | |
Gestão do desgaste do comutador | Antecipar-se a necessidade de intervenções corretivas no mecanismo do comutador | |
Monitor de Buchas | Acompanhamento de capacitância | Antecipar-se a falhas catastróficas (explosão); Obter maior disponibilidade de planta preterindo aos testes off-line da manutenção preventiva |
Acompanhamento de fator de potência | ||
Acompanhamento de corrente de fuga | ||
Monitor de Gás e Umidade | Acompanhamento da água no óleo | Manter o máximo de potência disponível para produção |
Controlar a hora certa de realizar uma manutenção corretiva (tratamento de óleo) | ||
Acompanhamento do H2 no óleo | Identificar em fase inicial falhas internas na máquina | |
Realizar um back-up dos ensaios preventivos de cromatografia | ||
Monitor do Sistema de Respiro do transformador | Manutenção da isolação do transformador | Manter em níveis permitidos a umidade no tanque de conservação |
Figura 2 – Arquitetura implementada
Figura 3 – Servidor de dados com o software de monitoramento on-line
2. Armazenamento das Medições
As medições realizadas pelos sensores inteligentes instalados no transformador são levadas a um servidor de dados instalado na sala de controle da subestação (como mostra a Figura 03).
Tudo o que é medido é gravado em bancos de dados históricos utilizando-se os meios considerados necessários para garantir a disponibilidade das informações (cópias de backup, espelhamento de discos, etc.). Dessa maneira, pode-se acompanhar o comportamento inteiro da vida monitorada do transformador.
A análise desse comportamento ao longo do tempo permitirá a engenharia Johnson identificar padrões e tendências; assim, definir planos de ações mais assertivos.
3. Tratamento das Informações
O sistema de monitoração provem informações que vão além dos dados “brutos” aquisitados dos equipamentos de medição, mostrados nas Figuras 04 a 07.
Figura 4 – Painel de monitoramento
Figura 5 – Monitores de Temperatura e Buchas
Figura 6 – Regulador de Tensão e Supervisor de Paralelismo
Figura 7 – Monitor de Gás e Umidade
O aproveitamento da capacidade de processamento do computador digital (Sistemas Especialistas), por meio de modelos matemáticos e lógicos, fornece os diagnósticos e prognósticos do estado de operação do transformador. A tradução do conhecimento que a engenharia possui a respeito da máquina em um software capaz de emular certos aspectos do comportamento da mesma. Desta forma, o sistema de monitoração contribui para a predição de condições adversas e a manutenção do conhecimento, que passa a não depender exclusivamente dos agentes humanos envolvidos.
Os modelos empregados na planta de São José dos Campos-SP foram:
A. Cálculo de envelhecimento da isolação
Envelhecimento da isolação por pirólise e hidrólise (NBR5416, IEC60076 e IEEE/ANSI C57.91)
– Controle do percentual de vida útil restante, perda de vida média diária e previsão de tempo de vida restante.
B. Cálculo do teor de água no óleo
Teor de água no óleo, com tendência de evolução e temperatura para formação de água livre
– Controle das restrições de carregamento
C. Cálculo do teor de água no papel
Percentual de água no papel, com cálculo de aceleração da perda de vida por hidrólise e cálculo da temperatura de formação de bolhas;
– Controle das restrições de carregamento
D. Cálculo de eficiência do sistema de resfriamento
A comparação entre a temperatura do topo do óleo calculada e a mesma temperatura medida
– Preservação do transformador a suportar todas as exigências de carregamento
E. Cálculo de temperaturas futuras
Previsão de temperaturas futuras, com indicação de tempos restantes para atingir níveis de alarme e desligamento, quando for o caso
– Planejamento de cortes sem alterar o plano de produção da planta
F. Cálculo off-line de cromatografia e físico-químico
Registro histórico e análise off-line de ensaios de gás-cromatografia e físico-químico no óleo
– Organização de ensaios e identificação precoce de defeitos internos
4. Disponibilização das Informações
Aproveitando as potencialidades do sistema de monitoramento automático, as informações são disponibilizadas a todos os setores interessados da empresa (manutenção, operação, automação…) em acessos simultâneos e ilimitados – democratização das informações do transformador.
- Acesso local – efetuado do próprio servidor na sala de controle
- Acesso remoto via Intranet – efetuado de qualquer computador remoto conectado à rede Intranet da empresa
No conceito de “exceção”, o sistema é responsável por avisar anormalidades de comportamento do transformador, excluindo a necessidade de alguém dedicado 24h por dia ao sistema. Este auxilia o trabalho das equipe de manutenção no planejamento e execução dos trabalhos informando – via alarmes e e-mails – as situações críticas e que devem ser tratadas. Na Figura 08 observa-se a tela de identificação da ocorrência de forma visual e intuitiva.
Figura 8 – Tela do software de monitoramento com o sistema de identificação visual de falhas no transformador
4.0 - CONCLUSÃO
As exigências de qualidade e respeito com o consumidor fazem com que a Johnson&Johnson constantemente busque inovações para tornar o processo de produção mais eficiente e confiável. A continuidade de modernizações da planta elétrica e a utilização do monitoramento on-line adere-se diretamente a política de manutenção preditiva adotada como padrão.
A ferramenta como auxílio na tomada de decisão já alterou os processos de manutenção bem como a relação entre necessidade técnica e exigências da produção fabril. Baseada na análise da evolução supervisionada de parâmetros significantes da deterioração do transformador de potência, a nova rotina permite melhor planejamento das intervenções corretivas.
De fato as equipes responsáveis por manter todo o sistema energizado tem os subsídios para agir de forma mais rápida, assertiva e com custos reduzidos.
5.0 - BIBLIOGRAFIA
- ELECTRA, “An International Survey on Failures in Large Power Transformers in Service”, Paris, CIGRE, Ref. no. 88, 1983.
- Amom, Jorge, Alves, Marcos, Vita, André, Kastrup Filho, Oscar, Ribeiro, Adolfo, et. al., “Sistema de Diagnósticos para o Monitoramento de Subestações de Alta Tensão e o Gerenciamento das Atividades de Manutenção: Integração e Aplicações”, X ERLAC – Encontro Regional Latinoamericano do CIGRÉ, Puerto Iguazu, Argentina, 2003.
- Melo, Marcos A. C., Alves, Marcos, “Experiência com Monitoração On-Line de Capacitância e Tangente Delta de Buchas Condensivas”, XIX SNPTEE – Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica. Rio de Janeiro, Brasil, 2007.
- Alves, Marcos, Silva, Gilson, “Experiência de Campo com Monitoração On-Line de um Transformador 343MVA 230kV com 2 Comutadores sob Carga”, IV Workspot – Workshop on Power Transformers, Recife, Brasil, 2005.
- Alves, Marcos, Vasconcellos, Vagner, “Monitoramento da Umidade no Óleo Isolante de Transformadores de Potência Visando o Aumento da Confiabilidade Operativa”, V Workspot – Workshop on Power Transformers, Belém, Brasil, 2008.
- IEEE Guide for the Application of On-Line Monitoring to Liquid-Immersed Transformers – Draft 11
- Brasil (2014). Treetech Sistemas Digitais; SIGMA – Sistema Integrado de Gestão e Monitoramento de Ativos